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O resgate da São Paulo limpa e agradável

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joão dória

São Paulo apagou ao longo do tempo todo o vestígio do que hoje se chama de cidade sustentável. Ficou no passado remoto a imagem da cidade com rios limpos, preservação de sua história, vegetação bem cuidada, ar respirável, trânsito mais equilibrado e boa oferta de transporte público.

Em nome do progresso e de sua grandeza, da pressa de manter a hegemonia na ponta de lança do enriquecimento nacional, a metrópole cresceu demais. E hoje padece as mazelas das megametrópoles: áreas verdes sufocadas; envenenamento do ar e dos rios; impermeabilização do solo; incremento de construções em morros e áreas degradadas; invasão de mananciais e povoamento de espaços sem um mínimo de condições para garantir uma sobrevivência decente às populações carentes.

Com raras exceções, os gestores públicos que ocuparam o comando da Capital paulista têm passado ao largo da questão da qualidade de vida de seus moradores, para privilegiar questões pontuais como critérios para construção na urbe, sem pensar no conjunto de ações para preservar as condições de sustentabilidade da cidade.

A pergunta recorrente continua sendo um desafio aos administradores: “É tarde para reverter uma longa história de descuidos e irresponsabilidade para com o meio ambiente da maior metrópole brasileira”? É evidente que não. Basta seguir os melhores exemplos das grandes cidades mundiais, que harmonizam o crescimento econômico com espaço sustentável, sempre sob o guarda-chuva da análise dos impactos ambientais que as ações administrativas provocam.

Os cidadãos interessados em uma cidade limpa, bem planejada e organizada são seus moradores. Afinal, quem não quer um ambiente mais agradável para viver e trabalhar? O que tem falta é orientação clara e segura por parte da Prefeitura, com esforço de conscientização voltado para a defesa da natureza e do homem.

Um exemplo é a coleta seletiva do lixo: grande parte da população separa os resíduos orgânicos e recicláveis nas casas, nos condomínios e nos comércios. Mas a cidade ainda não se preparou direito nem para a coleta, nem para a reciclagem. O cidadão se decepciona com essas ações incompletas. E desiste de fazer o seu papel. O ciclo do fracasso prevalece.

Cidades sustentáveis, é oportuno lembrar, adotam práticas eficientes para manter uma boa qualidade de vida com desenvolvimento econômico e preservação do meio ambiente. E algumas medidas são obviamente comuns, como as que seguem:

– Ações efetivas para a diminuição de gases do efeito estufa, em nome do combate ao aquecimento global; medidas para preservar os bens naturais comuns; planejamento e qualidade nos serviços de transporte público, utilizando fontes de energia limpa; incentivo e ações de planejamento para o uso de meios de transporte não poluentes. Há de se pensar, obviamente, na topografia da cidade antes de forçar a troca do carro pela bicicleta; ações para melhorar a mobilidade urbana, diminuindo consideravelmente o tráfego de veículos. Criação de sistemas eficientes de reciclagem de lixo. Uso de sistema de aterro sanitário para o lixo não reciclável. Programas educacionais voltados para o desenvolvimento sustentável; investimento em educação de qualidade; planejamento urbano eficiente, levando em consideração o longo prazo; favorecimento de uma economia local dinâmica e sustentável; práticas voltadas para o consumo consciente da população; uso racional da água e seu reaproveitamento; programas para a melhoria da saúde da população; criação de espaços verdes para o lazer dos moradores; programas de arborização das ruas e espaços públicos, sempre com boa manutenção.

Muitas dessas ações foram iniciadas, mas acabaram sendo abandonadas. Uma delas é a área dos mananciais, onde o objetivo era o de preservar os reservatórios da Zona Sul, livrando-os de loteamentos clandestinos e dotando os regulares de uma boa infraestrutura, com saneamento básico. As obras começaram, com muito discurso, e depois pararam. Nada se resolveu. Sente-se falta de continuidade nas ações essenciais para evitar a deterioração das condições de vida na metrópole.

Não é uma utopia imaginar São Paulo mais limpa e mais verde. As parcerias com os governos estadual e federal devem ser bem-vindas, assim como as PPPs – parcerias público-privadas. Inúmeras empresas já preservam nossos parques e jardins, custeando sua manutenção. Essa ideia poderá avançar para outros campos, abrindo-se uma prática saudável de cooperação.

O importante é perseverar. Sabemos que cidades gigantes não podem sonhar com a qualidade de vida de cidades menores. Mas devemos perseguir essa linha – e imaginar pequenas comunidades que se formam nos bairros e nos distritos trabalhando pelo bem comum. Muitos já fazem isso. Mas faltam coordenação e apoio. São desafios dos gestores públicos que querem agir com eficiência e praticar o bem.

* João Doria é jornalista, empresário e presidente do LIDE – Grupo de Líderes Empresariais