Início Natureza Futuro do meio ambiente é tema de seminário promovido pela Alesc em...

Futuro do meio ambiente é tema de seminário promovido pela Alesc em Anchieta

1059
0
COMPARTILHAR
?????????????

Deputado Padre Pedro Baldissera no seminário em Anchieta FOTO: Assessoria deputado Padre Pedro

Despertar na população a preocupação com a preservação do meio ambiente e discutir políticas públicas em favor de um desenvolvimento econômico que priorize a natureza foram alguns dos objetivos do Seminário Meio Ambiente e Sociedade 2019, promovido pela Comissão de Turismo e Meio Ambiente e Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira, realizado nesta sexta-feira (28), no Centro dos Idosos, em Anchieta. Mais de 350 jovens, vereadores, secretários municipais, agricultores, pesquisadores e especialistas de renome no Estado debateram as perspectivas sobre o desenvolvimento da região e a sustentabilidade.

Além das palestras, também foram apresentados projetos voltados à preservação ambiental na região, desenvolvidos por prefeituras e por organizações da sociedade civil. A atividade é a segunda de uma série de sete eventos voltados ao tema, em todas as regiões do Estado. A primeira foi realizada em Florianópolis, em junho. Antes do evento, alunos do terceiro, quarto e quinto anos do Centro Municipal Educacional Infantil e Fundamental apresentaram uma “mística” sobre os quatro elementos do meio ambiente e sua preservação.

O deputado Padre Pedro Baldissera (PT), proponente do encontro, destacou que o objetivo dos seminários é despertar na juventude ações concretas na relação do meio ambiente e a tecnologia, procurando uma convivência saudável e prática. Lembrou que, desde 2002, vem trabalhando na conscientização sobre a preocupação da produção agrícola saudável e a indústria do agrotóxico, que vem aumentando gradativamente no Brasil.

A realização do seminário em Anchieta, um município essencialmente agrícola, busca também mostrar a preocupação com o crescimento de casos de câncer na região e a utilização de agrotóxicos. “Estamos nos alimentando de veneno e temos que buscar um modelo de desenvolvimento científico com a produção ecológica e orgânica. Uma produção harmoniosa que se respeite o meio ambiente e o ser humano.”

Cansi citou que Anchieta já teve mais de 11 mil habitantes na década de 70, mas devido ao êxodo rural, atualmente tem 5.600 habitantes, por isso debater o meio ambiente e o desenvolvimento econômico tem que ser em cima de políticas públicas que unam essas duas áreas e planejando o futuro da região, por meio da conscientização dos jovens.

 

Aquífero Serra Geral

O professor Luciano Augusto Henning, do Projeto Rede Guarani/Serra Geral, apresentou a primeira palestra, abordando o tema Ciclo da Água, Aquíferos, Energia e Gás de Xisto, considerado fundamental para Santa Catarina, por já existir na pauta projetos para exploração de gás de xisto utilizando o fracking, tecnologia invasiva que já causou danos ambientais irreversíveis em diversas regiões do mundo. Henning apontou a importância do aquífero Serra Geral, mais importante que o Guarani para o estado, por cobrir 51% de Santa Catarina. “Essa água, limpa e boa, está no subsolo catarinense, nas fraturas das pedras de ferro, e tem que ser preservada e utilizada conscientemente, apesar de já existir indícios de poluição.”

 

Henning tem mestrado e doutorado pela UFSC na área de Geografia e participou de pesquisas na Queen´s University, no Department of Global Development Studies, em Kingston, no Canadá. Atualmente, além de pesquisador do projeto Rede Guarni/Serra Geral, integra a equipe de investigadores do Laboratório de Análise Ambiental (LAAm) do Departamento de Geociências da UFSC, com ênfase na área de recursos hídricos. Ele explicou que as águas do aquífero Guarani estão a mais de 1.500 metros de profundidade e que as águas do Serra Geral são mais acessíveis, por isso a divulgação da sua existência e a preocupação ambiental com ela é importante. “Primeiro temos que conhecer, para depois preservar e utilizar conscientemente.”

 

Contrato com a natureza

A segunda palestra, Energia e Desastres Ambientais, ministrada pelo professor Marcos Aurélio Espíndola, evidenciou a relação entre o modelo de geração de energia no país e as consequências ambientais e sociais para as populações. Para o professor, que é mestre em Geografia pela USP, doutor em Geografia Humana pela UFSC e Pós-doutor pelo Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas, Área de Concentração Sociedade e Meio Ambiente (Desastres Ambientais e Políticas Públicas), também pela UFSC, a ideia é conscientizar a população da importância de estabelecer um contrato com a natureza, estabelecendo uma reflexão em detrimento com o contrato que herdamos com o iluminismo, que prioriza o social e o econômico.

“Temos que colocar a natureza em evidência, despertar essa consciência ecológica.” De acordo com o professor, o contrato natural reza que as relações socioeconômicas entre os homens não podem mais ser regidas pela premissa de que a natureza é apenas o ponto de partida do processo de produção. “Somos parte da teia da biosfera e dependemos imediatamente dela para viver. A natureza é o ponto de partida e de chegada de si mesma.” Espíndola afirma que não se pode fazer morrer o que faz nascer, apenas para que adquira a forma de mercadoria, de lucro e de lixo.

 

Energias renováveis e tecnologias sociais

Com o foco em desenvolvimento de formas alternativas de geração de energia e sua interação com a sociedade, o professor Marcio Antônio Nogueira Andrade ministrou o tema Energias Renováveis e Tecnologias Sociais. O professor, que é mestre e doutor em Engenharia Civil na área de Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, e pós-doutor no Laboratório Nacional de Engenharia Civil – LNEC (Núcleo de Engenharia Sanitária do Departamento de Hidráulica) em Lisboa, Portugal, e na Cornell University (Department of Biological and Environmental Engineering) em Ithaca, Nova Iorque (EUA), defendeu investimentos em tecnologias sociais para que a população possa sobreviver às adversidades.

Para ele, a tecnologia sustentável pode diminuir os problemas de convivência harmoniosa com os recursos naturais. Citou como exemplos a utilização das águas da chuva como recurso hídrico, a utilização da biomassa residual, como dejetos de animais, para produção de biogás como fonte de energia. Relatou que na Alemanha, um terço do que é produzido em energia elétrica na usina de Itaipu é produzida por essa biomassa residual. “Nós somos um país tropical, a era do carvão e do petróleo está no fim. Nós temos que utilizar a tecnologia sustentável, disponível no nosso país, como a biomassa, a energia solar, eólica, para progredirmos.”

 

Experiências regionais

No período da tarde, o seminário abriu espaço para apresentações de projetos voltados ao meio ambiente e à sustentabilidade na região do Extremo Oeste. O prefeito de Anchieta, Ivan Cansi, que é engenheiro agrônomo da Epagri, abordou o tema modelo de desenvolvimento e o meio ambiente em Anchieta e região. Ele enfatizou que não existe pensar em desenvolvimento regional sem pensar no meio ambiente, “tudo está ligado”.

Cansi lembrou que na região, de 1940 a 1970, a população não respeitava o meio ambiente, a cultura era de limpar os terrenos, queimar florestas, tirar as pedras para preparar os terrenos. Roçadas e queimadas eram normais, quando a terra ficava fraca, os agricultores mudavam para outras áreas. Cultivava-se milho, fumo. De 1980 a 2000, observou que foi o apogeu do agrotóxico e o início das estiagens na região. “Se intensificou a monocultura da soja, do milho hídrico. Se introduziu a bovinocultura de leite, que causa a compactação do solo. Visível degradação do solo e da água.”, disse o prefeito, que ainda completou: “De 2000 para agora, surgiram os transgênicos, milho é para silagem, solo descoberto, produção da aveia, e a bovinocultura continua. Há a retomada do cultivo da subsistência, o ‘fim do desmatamento’ e a escassez da água”. Como positivo, o prefeito enumerou que a região começou a investir em cisternas, recuperar a mata ciliar, além da existência de uma legislação ambiental mais rígida, uma educação ambiental mais presente.

Encerrando o evento, o diretor de Meio Ambiente e Defesa Civil de Palma Sola, Douglas Fernando Ribeiro, enalteceu o projeto de tratamento de dejetos humanos, adotado no município desde 2010 e que é considerado referência nacional para tratamento de esgoto para cidades de pequeno porte, atendendo todo perímetro urbano de Palma Sola. O projeto está sendo ampliado e está em fase de conclusão de parceria técnica com outros municípios da região e pesquisado por outros estados.

Ney Bueno

AGÊNCIA AL