Início Natureza Óleo de manjericão apresenta potencial para controlar lagartas

Óleo de manjericão apresenta potencial para controlar lagartas

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Helicoverpa armigera

O tradicional manjericão-de-folha-larga (Ocimum basilicum L.), conhecido também como basilicão ou alfavaca, pode se tornar a base de um produto natural para o controle de importantes pragas das lavouras. Ao aplicar o óleo essencial dessa planta sobre folhas de feijão, cientistas da Embrapa Meio Ambiente (SP) registraram a morte de cerca de metade das lagartas da espécie Helicoverpa armigera e um índice de letalidade de 30% para a Anticarsia gemmatalis. A primeira foi introduzida no Brasil em 2013 e é conhecida pela grande voracidade e a A. gemmatalis é chamada de lagarta-da-soja por ser a principal praga da leguminosa. Ambas atacam diversas culturas e, por isso, são consideradas importantes pragas agrícolas.

O basilicão foi o mais eficaz entre as nove plantas cujos óleos essenciais foram testados no controle das duas lagartas na pesquisa. Uma das motivações para o uso de óleos é sua baixa, ou mesmo nenhuma, toxidez para o ambiente e para as culturas agrícolas. Os cientistas realizaram avaliações biológicas e comportamentais dos insetos e identificaram os principais compostos presentes nos óleos. Parte dos resultados foram publicados em um boletim de pesquisa.

Os pesquisadores consideram esse estudo promissor e completa trabalhos científicos realizados com outros óleos essenciais, como o óleo de Neen (Azadiracta indica), bastante utilizado no controle de pragas. Outro fator importante é a possibilidade de reduzir o uso de defensivos químicos, o que pode ser feito por substituição, ou uso do manejo integrado de pragas (MIP). A redução do uso de inseticidas químicos também auxilia na redução da resistência dos insetos a esses defensivos, um problema que vem crescendo nas lavouras. “Esses óleos também podem se tornar mais uma ferramenta de controle de insetos na agricultura orgânica, na qual esses compostos são permitidos, ampliando o leque de possibilidades do manejo das pragas”, diz a pesquisadora da Embrapa Jeanne Marinho Prado.

Prado explica que a utilização de inseticidas pode promover a resistência de populações de insetos-praga. A falta de novas moléculas inseticidas e a repetida utilização de produtos com modo de ação semelhante em uma mesma safra podem favorecer a resistência da população dos insetos, reduzindo a eficácia das aplicações.

Além disso, há uma crescente preocupação de consumidores e produtores com a saúde dos trabalhadores e com a contaminação de alimentos e do ambiente, destacando de forma geral a demanda por formas mais naturais, para oferecer proteção às plantas contra o ataque de insetos.

A pesquisadora relata que os óleos essenciais de basilicão e tomilho foram os que apresentaram maior bioatividade sobre lagartas e pupas de A. gemmatalis, em aspectos biológicos e comportamentais. Na fase adulta, A. gemmatalis foi mais afetada pelos óleos essenciais de laranja doce, melaleuca e orégano, acompanhados dos óleos essenciais de citronela e gengibre, sendo estes últimos responsáveis pela inviabilização de todos os ovos depositados. Os óleos essenciais de tomilho e menta não foram avaliados sobre a fase reprodutiva. Nos ensaios sobre lagartas de H. armigera destacaram-se os tratamentos com óleos essenciais de basilicão, canela e melaleuca, mas nenhum tratamento alterou o consumo foliar das lagartas.

50% de letalidade

Nos ensaios sobre lagartas H. armigera os tratamentos com óleos essenciais de basilicão, canela e melaleuca promoveram, em dez dias, a morte de metade das lagartas avaliadas. Entretanto, nenhum dos óleos prejudicou a alimentação das lagartas.

Entre os tratamentos avaliados sobre a espécie A. gemmatalis, os óleos essenciais de basilicão e tomilho causaram as maiores mortalidades observadas em lagartas e pupas. Os demais provocaram mortalidades inferiores a 14%, sendo que os óleos de melaleuca e gengibre igualaram-se ao tratamento-controle, com nenhum caso de mortalidade entre os insetos avaliados.

À exceção dos óleos essenciais de canela, gengibre e laranja doce, todos os outros causaram redução no ganho de peso larval de A. gemmatalis em relação às lagartas do tratamento-controle, sendo os melhores resultados obtidos com basilicão, orégano e tomilho. O óleo essencial de tomilho foi o único a provocar redução no peso de pupas.

Dos óleos essenciais avaliados para a fase reprodutiva, os de laranja doce, melaleuca e orégano causaram redução no número de ovos por fêmea. Esses mesmos três óleos essenciais causaram também redução na viabilidade de ovos, acompanhados dos óleos essenciais de citronela e gengibre, sendo estes últimos responsáveis pela inviabilização de todos os ovos depositados. O tempo de vida das lagartas que alcançaram a fase adulta não foi influenciado por nenhum dos tratamentos aplicados às lagartas de A. gemmatalis.

O óleo essencial de tomilho causou mortalidade na população avaliada de A. gemmatalis e redução nos pesos de lagartas e pupas. Os óleos essenciais de gengibre e citronela causaram a inviabilização de todos os ovos depositados por adultos de A. gemmatalis, possivelmente devido à ação dos seus compostos majoritários. Os cientistas agora avaliam a letalidade de cada um dos óleos essenciais utilizados na pesquisa para definir em quais deve-se continuar investindo para a busca de moléculas inseticidas visando a formulação de produtos fitossanitários que possam contribuir com o manejo integrado de pragas.

Além de Jeanne Marinho Prado, participaram do trabalho os pesquisadores Lilia de Morais, da Embrapa Agrobiologia, e Ricardo Pazianotto, da Embrapa Meio Ambiente.

Cristina Tordin (MTb 28.499/SP)

Embrapa Meio Ambiente