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Projeto Lontra resgata animais na Grande Florianópolis

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São diversos os casos de filhotes de lontras neotropicais que se perdem de seu habitat e acabam na residência de algum morador da região ou presos na rede ou covo de um pescador

Uma das importantes ações do Projeto Lontra – iniciativa do Instituto Ekko Brasil (IEB) – é o resgate de filhotes de lontras neotropicais (Lontra longicaudis) nos arredores da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis. São diversos os casos de animais que se perdem de seu habitat e acabam na residência de algum morador da região ou presos na rede ou covo de um pescador.

Um dos casos mais recentes ocorreu no dia 21 de dezembro de 2018, quando uma moradora da Tapera, bairro localizado na região sul de Florianópolis, avistou um animal selvagem em seu terreno. Primeiramente, ela achou que fosse um furão, percebendo rapidamente se tratar de uma lontra. Contatou então o Projeto Lontra que enviou uma equipe para resgatar o animal, que constatou ser um filhote de três ou quatro meses de idade.

Há casos mais antigos registrados pelo Projeto Lontra. Em dezembro de 2008, por exemplo, a equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO), localizou na Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF) – região de Santa Catarina que inclui áreas terrestres ao longo da costa, com cerca de 22% do território total de nove municípios – uma lontra que foi entregue ao Projeto. Tratava-se de uma fêmea de apenas 30 dias. A filhote, primeira fêmea do plantel, foi adotada, recebendo o nome de Yara.

Em 2010, um filhote de lontra macho, com 20 dias de vida, foi encontrado pela Polícia Ambiental de Santa Catarina, vindo da cidade de São Bonifácio, distante 70 quilômetros da capital. Ele foi entregue aos cuidados do Projeto Lontra, que após diagnóstico, destinou o animal para a amamentação. O filhote foi chamado de Boni.

Em 23 de novembro de 2012, o Projeto Lontra notificou o resgate de um filhote de lontra fêmea na Ilha de Porto Belo, em Santa Catarina. Posteriormente, o animal recebeu o nome de Bela. A filhote foi pega por um pescador, por meio de uma rede tipo tarrafa, que a deixou separada da mãe dentro de um balde plástico. Tal prática, proibida, foi notificada pelo gestor da Ilha, que chamou o Projeto Lontra para resgate do animal. Bela foi encaminhada ao refúgio para cuidados médicos.

O caso mais emocionante é o de um filhote com poucos dias de vida encontrado mamando na mãe morta em 2004. Este foi entregue à Polícia ambiental que depois acionou o Projeto Lontra. Este filhote foi batizado com o nome Tupi e foi o responsável pelo início do Criadouro chamado Refúgio Animal, e hoje abriga vários órfãos de lontras. Tupi faleceu a poucos anos, mas representa um marco importante para o Projeto e para toda a equipe do Instituto que tinham muito carinho por ele.

 

Procedimentos de regaste

O oceanógrafo e gerente de Pesquisa e Projeto do Instituto Ekko Brasil (IEB), Dr. Oldemar Carvalho Junior, explica que a maioria dos animais encontrados na Grande Florianópolis são resgatados pelo próprio Projeto Lontra. Nos casos em que os filhotes precisam ser pegos em lugares mais distantes, há o auxílio da Polícia Ambiental, que entrega as lontras em diversos locais, tais como zoológicos, Centro de Triagens de Animais Silvestres (Cetas) e bases da Polícia Ambiental.

Após o resgate, o veterinário do refúgio animal do Projeto Lontra faz uma avaliação clínica do filhote. “Se não for constatado problema de saúde, a lontra é reintroduzida de forma imediata ao ambiente. Caso contrário, o animal precisa ficar algum tempo em recuperação, que pode variar de uma semana a quatro meses. O tratamento é realizado no ambulatório do refúgio animal, que está equipado inclusive para pequenas cirurgias”, esclarece o gerente de Pesquisa e Projeto do IEB.

 

Presa fácil

A área em que uma lontra vive no Brasil pode chegar a 4.800 Km². Nesse sentido, elas precisam se locomover com frequência e acabam passando por muitos perigos, como cachorros, áreas urbanas, carros e poluição. Contudo, os filhotes de lontra são os que mais sofrem por isso. “Quando a mãe não retorna, o filhote órfão acaba saindo da toca, desorientado e com fome. Alguns são achados e entregues ao Projeto. A maioria se torna presa fácil”, afirma Dr. Oldemar.

De acordo com o gerente de Pesquisa e Projeto do IEB, um filhote de lontra macho abatido por uma pancada de remo na cabeça, ou morto a tiro porque entrou para comer peixes em um tanque de piscicultura, representa uma perda irreparável. Isto porque as subpopulações de lontras são muito pequenas, de cinco a 11 indivíduos, e não são permanentes ou fixas. Além disso, trata-se de um animal que dá poucos filhotes por ninhada, que não ocorre todo ano. O tempo de vida de uma lontra também não é muito longo (de 8 a 12 anos).

 

Furão órfão

Raras vezes algum outro tipo de animal é entregue aos cuidados do Projeto Lontra. Mas acontece. Recentemente um filhote de furão fêmea (Galactis cuja) foi encontrado ao lado da mãe morta, em um loteamento habitacional na cidade de Chapecó, em Santa Catarina, que dista 553 quilômetros da capital Florianópolis. O animal foi entregue aos cuidados da Polícia Ambiental Estadual, que o encaminhou para uma veterinária particular de Chapecó, Dra. Isadora Massa, que presta atendimento voluntário a animais silvestre.

Como o filhote apresentava olhos e ouvido fechados, Dra. Isadora acredita que ele contava com uma semana de vida na ocasião. Dra. Isadora afirma que, costumeiramente, trata os animais e os devolve à natureza. No caso do filhote de lontra, que veio muito pequeno, isso não foi possível. Por isso entrou em contato com o Projeto Lontra.

 

Projeto Lontra

Pesquisa, mobilização social e empreendedorismo social, esse é o tripé que sustenta o Projeto Lontra, idealizado pelo Instituto Ekko Brasil (IEB) há 30 anos, que tem como objetivo a recuperação e conservação da lontra neotropical (Lontra longicaudis) e da ariranha (Pteronura brasiliensis).

Em 2010, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, o Instituto iniciou um conjunto de atividades e pesquisas que foram realizadas no decorrer de 24 meses. A segunda edição do Projeto, de 2012 a 2014, além de incluir ações no bioma Mata Atlântica e área costeira de Santa Catarina, também estendeu as atividades para o bioma Pantanal do Mato Grosso do Sul, quando inclui os estudos com as ariranhas selvagens. A presente edição traz como novidade a atuação para a Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca (APABF), onde o IEB já participa ativamente como instituição membro do Conselho Consultivo.

 

Instituto Ekko Brasil (IEB)

Criado em 2004, em Santa Catarina, o Instituto Ekko Brasil (IEB) é uma organização não governamental cujo objetivo é coordenar e apoiar projetos que tenham como foco a conservação da biodiversidade e o turismo de conservação. O IEB atua através da pesquisa e da mobilização social, como forma de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das comunidades, deixando um legado positivo às gerações futuras.